Plesbicito? Para que?
Sacando rápido como os mocinhos dos antigos filmes de bang-bang, o senador José Sarney apressou-se em pegar carona na tragédia da escola de Realengo, na Zona Oeste do Rio de Janeiro e propôs uma consulta popular para o próximo dia 2 de outubro, pretendendo que a população decida se quer, ou não, proibir a venda de armas. Matreiro o suficiente, o chefe da clã que comanda o miserável Maranhão e o Amapá, quer transferir ao eleitor a responsabilidade de uma suposta escolha de Sofia: ter arma em casa protege o cidadão?
O Estatuto do Desarmamento, a Lei \nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003, sancionada pelo Presidente Lula, estabelecia as normas para a aquisição de armas e munições, inclusive o tipo de arma que cada usuário poderia adquirir, de acordo com as suas condições de trabalho, inclusive as empresas privadas de segurança pessoal. O que excluía os marginais. Portanto, o Poder Público já dispõe de uma legislação específica para combater a proliferação de armas, mesmo as produzidas no País. O que ocorre é a falência do Sistema de Segurança sob a influência do banditismo político e a corrupção. Não faz muito tempo, a Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro promoveu uma exposição de armas apreendidas pela Polícia. Um oficial da PM denunciou que, uma metralhadora dada como recentemente apreendida, fora, no entanto, resultado de uma incursão antiga de um grupo de PMs sob o seu comando, isto é, até a exposição feita pela Polícia estava “inflada” por armas antigas, que apodrecem nos escaninhos da Polícia, pela demora com que os inquéritos em torno dessas apreensões se arrastam na Justiça, pois nem a Polícia, muito Menos o Ministério Publico são atraídos por processos que não estejam na mídia ou envolvam pessoa muito conhecida ou de projeção nacional.
O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante, por exemplo, criticou na semana passada a idéia de criar um plebiscito nacional para consultar a população sobre a venda e compra de armas de fogo, proposta pelo presidente do Senado. “O plebiscito pode ser uma cortina de fumaça para desviar o foco dos reais problemas de segurança que devem ser enfrentados pelo governo, além de se constituir num desrespeito à vontade popular legitimamente expressada no referendo de 2005”, declarou.
Na sua avaliação, o que o país precisa, na verdade, é de um plano nacional de segurança pública, de forma a combater o comércio ilegal de armas e munição, que é o grande propulsor da violência. “Hoje se vive no Brasil uma verdadeira guerra civil urbana pela ausência de uma política clara, consistente e efetiva de combate à criminalidade e o tráfico de armas”, afirmou. Ainda segundo o presidente nacional da OAB, o governo precisa cuidar da questão da segurança pública como um problema social macro. “É necessário um olhar nacional e global a respeito de uma política de segurança pública para nosso País”, finalizou o advogado.
A corajosa posição do presidente da OAB deve ser apoiada pela opinião pública, enviando aos senadores de cada Estado a sua objeção por essa farsa, pois lei para coibir o comério clandestino de armas, bem como instrumento para que a Polícia desarme os bandidos. A prisão de dois vereadores em Duque de Caxias, em dezembro, e de um integrante da Câmara do Rio de Janeiro, semana passada, acusados de integrarem milícias armadas que “vendiam segurança” além de explorar sistemas piratas de transmissão de sinais de TV a cabo, de banda larga, de venda sobre-taxada de gás de cozinha e transporte alternativo.
No caso do vereador carioca, conhecido como “Deco”, os telejornais exibiram imagens dele depondo em comissões da própria Câmara e da Assembléia Legislativa, onde, de forma desrespeitosa e até criminosa, fez ameaças diretas contra os dois parlamentares e diante das Câmeras. No caso do Rio, a vereadora Andréia Gouveia Vieira admitiu para a imprensa, depois do incidente, que chegou a pensar em chamar a Segurança da Câmara para prender o “colega” e encaminhá-lo a uma Delegacia de Polícia pelo crime de ameaça. Por compadrio indevido ou por medo que a ameaça se concretizasse, a vereadora tucana deixou de prestar um serviço à cidade do Rio de Janeiro, excluindo de plano da Câmara um cidadão que tinha tudo, menos uma ficha limpa!
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