A DESMORALIZAÇÃO DAS PESQUISAS NAS ELEIÇÕES

Às vésperas das eleições, advertimos para a banalização das pesquisas de intenção de voto, que deixaram de ser uma estimativa do que poderia ocorrer nas eleições para se tornar um fato determinante dessa mesma eleição, pois os marqueteiros deixaram de colocar em debate os temas que realmente interessam ao eleitor, como melhorias nos serviços que o Governo executa com os recursos gerados por impostos e taxas, a começar pela Educação, Saúde e Segurança, para se discutir a quantidade UPAs, que não irão resolver a falta de leitos nos hospitais, a instalação de UPPs, desacompanhadas de serviços públicos decentes, a começar pelo trio Saúde+Edicação+Empregos.

Virando as costas para o que o povo pediu nas ruas em 2013, a imensa galeria de candidatos continua a prometer o secular binômio pão+circo, este último com os incentivos fiscais, que acabam beneficiando grandes e custosos projetos, quando o povo já veria de bom grado um simples coreto na pracinha, onde cantores populares, patrocinados pelo dono do bar ou do armarinho ali em frente, pudessem se apresentar nas tardes de domingo. Temas como carestia, rebatizada de inflação, bolsa família (que deveria atender a emergências) - aborto, racismo e até a criminalização do uso e do porte de armas destinadas às Forças de Segurança - nenhum desses temas foram corretamente abordados no horário eleitoral, que custa ao contribuinte cerca de R$ 800 milhões em impostos que deixam de ser pagos por emissor de rádio e TV.

Os principais institutos de pesquisas eleitorais erraram feio nas previsões de resultados importantes como as eleições de governadores do Rio, S. Paulo, Bahia e Rio Grande do Sul em que o eleitor deu uma tremenda rasteira nos pesquisadores, numa demonstração de que pesquisa por amostragem pode ser um bom negócio para o candidato mais bem avaliado, que terá maior facilidade em encontrar quem financie a sua caríssima campanha. A começar pela exibição de uma sortida frota de veículos, ou na produção de filmetes cuja finalidade era não só o de esconder os defeitos do candidato, mas dourar as suas promessas.

Um candidato a deputado estadual não pode prometer por exemplo uma linha de BRT ou algo semelhante simplesmente porque se trata de um serviço público concedido pelo Governo do Estado (ou da União), que depende de um estudo de viabilidade econômica e ambiental, da mesma forma que um candidato a deputado federal não pode prometer eliminar o Fator Previdenciário, ou atualizar a tabela do Imposto de Renda, de competência exclusiva do Poder Executivo.

Além de passar ao largo das mais legítimas reivindicações dos eleitores, os candidatos apelaram para o ódio, o rancor, o dedodurismo irresponsável, buscando desqualificar os projetos do concorrente, sem nada oferecer em troca. Tivemos uma campanha do não compromisso com a verdade, de dribles na Ética e da mentira deslavada em alguns casos extremos.

Se o governo criasse uma espécie de Enem para ser aplicado aos nossos políticos a cada dois anos, num cotejo entre as promessas de campanha e o exercício do seu mandato, a grande maioria seria cassada por insuficiência de desempenho ou por trair o eleitorado. O pior é que, daqui a dois anos (eleição de prefeitos e vereadores), o eleitor enganado em 2012 não se lembrará das promessas que o seu candidato fez, mas não cumpriu, embora esteja pedindo a a renovação do seu mandato.