Uma menina chamada Malala

O Prêmio Nobel da Paz foi concedido à jovem paquistanesa Malala Yousafzai e o ativista indiano Kailash Satyarthi. Ambos foram laureados por seus respectivos trabalhos em prol da educação. No anúncio oficial, o porta voz da Academia destacou o direito universal à educação de todas as crianças. “É um pré-requisito para o desenvolvimento global e pacífico que os direitos das crianças e dos jovens sejam respeitados. Em áreas devastadas por conflitos, em particular, a violação deste direito das crianças leva à continuação da violência de geração em geração”, disse. Malala se tornou a mais jovem na história a vencer um Nobel. Antes era o australiano Lawrence Bragg, que ganhou o de Física em 1915 quando tinha 25 anos.

Malala, uma jovem de apenas 17 anos, que luta pelo direito das meninas à educação em uma região do Paquistão onde o talibã tem grande poder. Pelo ativismo, ela foi atacada e baleada na vila onde morava com a família. Foi hospitalizada e se recuperou na Grã-Bretanha, país que virou a base para a sua luta - heroica - pelo direito das mulheres. Ao contrário de outras personalidades que utilizam a tribuna da Assembleia Geral da ONU para se autopromover, a franzina, mas corajosa Malala arrancou aplausos da maioria dos presentes ao afirmar. “Se juntarmos um lápis, uma folha de papel e um professor, mudaremos o Mundo!”.

Quem disse isso está cursando o equivalente ao nosso Ensino Médio e vive um País onde as mulheres nascem, crescem e morrem apenas para uma função: a reprodução. No Paquistão e em outra dezena de países, a mulher é proibida de estudar, pois tal desejo é considerado um pecado mortal, sujeitando essa mulher a uma série de constrangimentos, que vão desde a expulsão de sua casa como uma “perdia” até o apedrejamento mortal.

No Brasil a realidade não é diferente, principalmente no Norte e no Nordeste, onde as mulheres, além de serem usadas como simples reprodutora, também são exploradas sexualmente, muitas das vezes com o consentimento e até o incentivo da família. No Youtube é possível encontrar dezenas de documentários que revelam o drama de meninas que, aos 8 ou 9 anos, quando deveriam estar na escola cursando o Ensino Fundamental, circulam entre caminhões estacionados em postos de combustíveis, vendendo o próprio corpo para levar para casa uns trocados para a compra de feijão, farinha e, quando o dinheiro dá, um ovo ou um pedaço de carne seca. Em 2000, institui-se o Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual Infanto-Juvenil, assim como o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual Infanto-Juvenil, comemorado em 18 de maio. Apesar disso, o Pará é o segundo estado brasileiro com maior número de pontos de prostituição infantil nas estradas, de acordo com pesquisa do Departamento Nacional de Polícia Rodoviária Federal em parceria com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.

Na BR-230, também conhecida como Transamazônica - que corta os municípios de Marabá, Altamira e Itaituba - alguns bares são considerados pela polícia locais comuns de prostituição infantil. Ônibus, caminhões e veículos pequenos são alvos frequentes de vistorias. "A extensão territorial é um grande fator. Nós temos várias rodovias que são praticamente intransitáveis, então ficam pessoas ilhadas em certos locais e isso dificulta a chegada do estado para dar suporte social. Percebemos também que hoje a maioria dos pontos críticos para esse tipo de exploração com crianças e adolescentes são lugares miseráveis em todos os sentidos, educação, alimentação. As pessoas às vezes vão lá sem a consciência do que estão fazendo e trocam às vezes sexo por comida", diz Marisol Mota, inspetora da PRF.

O Brasil precisa de muitas Malalas para extirpar esse câncer social: a exploração da mulher em todos os sentidos do termo.