A ética na política e a ótica dos Partidos

A campanha popular, com mais de 4 milhões de assinaturas e que resultou na aprovação da “Lei da Ficha Limpa”, que continua em discussão - sem solução à vista - no Supremo Tribunal Federal, demonstra a falência dos nossos partidos políticos, que há muito tempo deixaram de expressar uma corrente política em busca do Poder, para se tornarem um ajuntamento de pessoas com interesses pessoais ou corporativos. Nem o Partido dos Trabalhadores, que nasceu nas Comunidades Eclesiais de Base, movimento político que atuavam na ala progressista da Igreja Católica, escapou do pecado original de colocar os interesses de pequenos grupos acima dos chamados idéais partidários.

Hoje, quando a Polícia Federal desencadeia uma nova operação e prende dezenas de prefeitos e assessores, os partidos a que eles são vinculados simplesmente se fingem de mortos. Nos escândalos do Governo Lula, a começar pelo “Mensalão”, o ex presidente, na primeira entrevista sobre o assunto e dada na Europa a uma jornalista previamente escalada pela assessoria do Planalto, explicou que o PT apenas fizera uso do “caixa dois”, muito comum nos demais partidos brasileiros. A partir daí, Lula passou a usar um novo bordão: não sei de nada!

Em Duque de Caxias, tivemos dois casos sintomáticos da irrelevância dos partidos na vida política nacional. O primeiro e emblemático caso envolve o vereador Samuquinha, eleito pelo PMDB em 2008. Em 2010 e sem maiores explicações, o vereador se bandeou para o PR - hoje presidido pelo ex governador Anthony Garotinho no Estado - por onde disputou e venceu a eleição para deputado estadual, cujo mandato começa neste 1º de fevereiro. Por decisão do STF, o cidadão só pode trocar de partido se for para fundar um novo partido, se comprovar que o partido a que está vinculado tomou uma decisão contrária ao que está previsto em seu estatuto ou se o partido o liberar, tal e qual acontece com os jogadores de futebol em relação ao passe.

Ocorre que Samuquinha, na verdade, temia não contar com o apoio no PMDB para disputar a eleição para deputado, pois a preferência no partido era pelo irmão do então prefeito Washington Reis e que acabou conquistando uma cadeira na Assembléia Legislativa. Nesse caso, cabia à direção do PMDB requerer à Justiça Eleitoral a cassação do mandato de Samuquinha, o que implicaria na convocação do seu suplente, Antonio Cananéia. Como não usou a decisão do STF a seu favor, o PMDB permitiu que Samuquinha continuasse vereador até ontem, dia 31 de janeiro, e ainda permitiu o surgimento de uma nova liderança no município.

No segundo caso, temos a prisão de dois vereadores, Jonas Gonçalves da Silva, o Jonas é Nóis (PPS), que é PM reformado, além de Sebastião Ferreira da Silva, Chiquinho Grandão (PTB), acusados pelo Ministério Público Estadual de liderarem uma milícia armada no município, organização criminosa que estaria envolvida na prática de seqüestros, extorsão, assassinatos, exploração de transporte alternativo clandestino e no comércio irregular de gás de botijão. Eles foram presos no dia 21 de dezembro último, durante a “Operação Capa Preta”, numa referência ao deputado Tenório Cavalcante, já falecido, que usava uma capa preta como indumentária padrão.

Até o momento, nem a Câmara, que volta do recesso de fim de ano neste dia 1º de fevereiro, muito menos os partidos a que pertencem os dois presos, tomaram qualquer posição, seja no sentido de contestar as prisões ou suspender seus mandatos, seja para expulsá-los por violação do decoro parlamentar ou do programa dos respectivos partidos. Como diz o povo, quem cala, consente!