A alta dos juros e a desindustrialização

Parafraseando conhecido político da atualidade, nunca na História deste País os banqueiros ganharam tanto dinheiro apenas emprestando ao Governo. Como o Governo não aceita cortar o orçamento na parte das despesas, só resta ao BC apelar para a taxa de juros. Assim, a nova Taxa Selic, 11,25% a.a., a chamada taxa básica de juros, é mais um incentivo à desindustrialização do País, pois, enquanto os juros sobem, o dólar – principal moeda de troca – cai a níveis nunca antes imaginado. Assim, porque se sujeitar a pagar juros reais em torno de 6% a.a. – descontada inflação projetada em 5,5 a.a. – se o industrial pode, sem nenhum esforço, importar tudo o que precisa da China, da Índia, do Vietnam ou de qualquer outro país, não precisando nem ter o trabalho de etiquetar o seu produto, pois ele entrará no País com a marca que irá exibir nas prateleira?

Embora Lula sempre tentasse se equiparar a JK, havia um grande abismo entre os dois, independente de um ser mineiro e o outro, pernambucano. Na implantação da indústria automobilística, por exemplo, o governo JK permitiu que as empresas estrangeiras, que quisessem aderir ao plano de fabricação de automóveis, caminhões e tratores no Brasil, importassem veículos no sistema CDK, isto é, as peças vinham prontas e, na sede brasileira, seriam montados os veículos. Outra exigência é que parte dessas peças fossem fabricadas no País, incentivando a criação ou expansão da indústria de autopeças. Como havia um prazo para acabar o regime CDK e para a nacionalização das peças, em pouco tempo o País passou a fabricar automóveis "Made in Brasil". Em 2010, foram produzidos mais de 3,6 milhões veículos.

Com a desastrada política de juros reais adotada pelo Banco Central (Selic – Inflação), o consumidor encontra no comércio liquidificadores fabricados na Rússia, ou talheres inox feitos em Taiwan, embora exibindo as mais conhecidas marcas do mercado nacional como se aqui tivessem sido fabricados. Pagando mais de 36% de impostos (na energia elétrica, que move fábricas, lojas e escritórios, é 30% só de ICMS), o empresário nacional enfrenta a concorrência não só das empresas instaladas na Zona Franca de Manaus mas e principalmente as de fundo de quintal em paraísos fiscais da Ásia, onde o trabalho é tipicamente escravo, com jornadas de até 12 horas, sem descanso aos domingos e feriados e outros benefícios que os brasileiros usufruem, como FGTS e Previdência Social.

Como as chamadas classes abastadas ainda não perderam o estilo "é chic usar perfume francês", ou fazer comprinhas em Miami e Nova York, acabam fazendo turismo com dólar abaixo de R$ 1,70, desfalcando o País de divisas que seriam muito úteis na importação de máquinas e tecnologia para aumentar a produtividade de nossas empresas. Essa seria uma forma legal e sem restrições da Organização Mundial de Comércio de disputar o mercado internacional contra grandes complexos industriais, que contam com diversas vantagens fiscais e creditícias do governo em seu Pais sede.

O ex ministro do Exterior Juracy Magalhães foi para o limbo da política nacional ao ver pinçado pela Mídia um trecho de comentário que termina com a afirmação: "o que é bom para os EE. UU., é bom para o Brasil". Como, atualmente, a taxa de juros de referência para os EUA está entre os ZERO e 0,25%, depois da crise financeira ter obrigado os bancos centrais a implementarem medidas que incentivassem a economia e, tomada ao pé da letra a sugestão do ex governador da Bahia, o Banco Central deveria reduzir a taxa de juros, tal e qual o FED fez para tirar a economia norteamericana do atoleiro.