A banalização das pesquisas eleitorais

As pesquisas eleitorais estão atropelando as eleições. Pelos que estamos acompanhando, elas passaram a ser um referencial importante na modelagem do discurso dos candidatos, que ficam distantes de temas polêmicos como aborto, homofobia, imposto sindical, voto distrital e até a maior, ou menor, autonomia do Banco Central. Há 30 ou 40 anos, as pesquisas eram uma espécie de antídoto, ou vacina, que protegiam o candidato das fraudes nas urnas, como ocorreu em Duque de Caxias, em 1962, quando o recurso do voto em separado foi largamente utilizado nas seções dos bairros Periquitos e Centenário para beneficiar um candidato a vereador.

Truque semelhante, porém mais sofisticado, foi utilizado nas eleições para o Governo do Estado do Rio, em 1982, pela empresa Proconsult, contratada pelo Tribunal Regional Eleitoral para contabilizar os votos, cuja contagem era manual e transcrita em mapas, a cargo de Juntas Apuradoras em cada Zona Eleitoral. Através de um desvio padrão, o chamado “diferencial Delta”, um percentual dos votos em branco ou nulos eram desviados para o candidato Moreira Franco, de forma a impedir a eleição de Leonel Brizola a governador. Este descobriu a armação e botou a boca no trombone. Cunhado de João Goulart, ele acabara de chegar do exílio e tinha muito prestígio na imprensa internacional. Foi feita a recontagem dos votos Brizola foi declarado vencedor.
Hoje, com a marketização da campanha, cabe a um especialista em propaganda dizer quando o candidato deve opinar sim, não ou talvez, transformando o voto em uma espécie de sabão em pó, cujas diferenças de marcas (partidos) ficam apenas no perfume, sendo descartada a sua principal função, a de lavar a roupa. Por isso, na atual campanha vem ocorrendo a divulgação de até duas pesquisas num mesmo dia, com resultados divergentes. Mas, como diria uma ex famosa Ministra da Economia, a veracidade dos dados exibidos pela mídia são mero detalhe. Os marqueteiros conseguiram a empulhação máxima do eleitor ao justificar a divergência entre uma e outra pesquisa como sendo resultado do “comercial” exigido durante o falso horário eleitoral gratuito, isto é, a frase dita por determinado candidato é excluída do contexto e passa a ter vida própria, a exemplo do que ocorreu nas eleições de 1946 e seguintes, quando o brigadeiro Eduardo Gomes foi transformado em inimigo da classe operária, pois, em um discurso, ele se referiu ao uso da marmita, como símbolo dos trabalhadores. 
O lado bom do entrevero entre o brigadeiro udenista e seus adversários do PSD e do PTB, irmãos siameses criados por Vargas, foi que um grupo de mulheres que apoiava o candidato udenista passou a produzir uns docinhos, à base de chocolate, que Eduardo Gomes utilizava em substituição às refeições diárias, que hoje tem presença indispensável nas festas: o brigadeiro. 
No caso das pesquisas eleitorais, elas acabam convergindo para um resultado mais próximo ao que sairá da urna, sob pena da desmoralização da empresa que as produz. Durante a campanha, essas pesquisas são utilizadas pelos patrocinadores e financiadoras das milionárias campanhas para calibrar o valor das doações para cada candidato ou coligação.
Quanto ao que pensa, verdadeiramente, o eleitor, esse é apenas um mero e desprezível detalhe. O que importa é que os eleitos pelos pesquisadores sejam abençoados pelas urnas, nem que seja preciso reviver o “diferencial Delta” de forma mais discreta.
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