Marcha da Consciência Negra pede democracia, direitos e fim do racismo

Marcha da ConsciÛncia Negra pede ABr Rovena RosaA 15ª Marcha da Consciência Negra foi nesta terça-feira (20) na capital paulista reivindicando o fim do racismo, mais direitos e democracia. Na faixa carregada pelos manifestantes à frente do ato, estava estampada os rostos de lideranças negras assassinadas, entre elas a vereadora Marielle Franco (PSOL), morta em um ataque a tiros junto com seu motorista, Anderson Gomes, em março, no Rio de Janeiro.

Outras bandeiras levantadas na manifestação diziam respeito à intolerância religiosa, à violência contra a população negra e à questão quilombola. "Atacar os orixás é atacar o povo preto"; "Se você for preto, o próximo pode ser você", e "A destruição dos quilombos é projeto de um Brasil racista" eram alguns dos dizeres estampados.

- A mensagem que nós estamos colocando é principalmente o não ao racismo. Esse país tem um projeto de genocídio da população negra, e que não é de hoje. Vem desde a abolição da escravatura. Mas nós estamos firmes e, da nossa parte, vai ter muita luta - disse Milton Barbosa, coordenador do Movimento Negro Unificado (MNU), uma das entidades que organizou o ato.

A marcha partiu do Museu de Arte de São Paulo (Masp) e se deslocou no sentido do centro pela Rua da Consolação. Entre os manifestantes, estavam membros de entidades como o Congresso Nacional Afro Brasileiro, o Círculo Palmarino, o coletivo Emancipa, o Sindicato dos Bancários de São Paulo, e o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp).

No Rio de Janeiro, homenagem a Zumbi

Marcha da ConsciÛncia Negra pede 2 ABr Fernando FrazÒoAtivistas, grupos culturais e religiosos também comemoram ontem (20) o Dia da Consciência Negra com várias atividades em frente à estátua de Zumbi dos Palmares, no centro do Rio de Janeiro. O líder da resistência contra a escravidão, que comandou uma comunidade de escravos foragidos (quilombo), em Alagoas, no século XVII, morreu em 20 de novembro de 1695.

Logo no início da manhã, houve apresentações de capoeira e do grupo Afoxé Filhos de Gandhi. “Depois de 130 anos da abolição [da escravidão] não concluída, quando os negros foram jogados à própria sorte, o Estado não se preparou para essa abolição. Construiu-se um apartheid social, quando a mão-de-obra escravizada foi substituída pela mão-de-obra dos europeus. Isso levou o negro direto da senzala para as favelas e para os presídios”, disse Cláudia Vitalino, da União de Negros e Negras pela Igualdade Racial e do Conselho Estadual de Direitos dos Negros.

Para Fátima Malaquias, do Conselho Municipal de Defesa dos Direitos do Negro,  já há avanços em relação à população negra, mas muito ainda precisa ser feito, principalmente em relação à violência e ao acesso à saúde. “Os nossos estão morrendo. Se você entrar em qualquer hospital, tem muita gente morrendo e a maioria é negro, mas o alerta principal é em relação à violência: há um genocídio cruel dos nossos jovens”, disse.

Durante a manhã, também foi feito um cortejo em homenagem a Tia Ciata, um dos ícones do samba carioca, que saiu da antiga casa da matriarca em direção à estátua de Zumbi, em local próximo. “Se Tia Ciata estivesse viva hoje, ela certamente estaria defendendo o povo de matriz africana e também se colocando contra o genocídio da população negra, a violência contra a mulher. Ela sempre teve essa atitude de abraçar [as lutas]”, disse Gleicy Mari Moreira, bisneta de Tia Ciata. (Agência Brasil)