Piratas impedem equipe brasileira de receber carro no Dakar

Ataques aconteceram na mesma região onde porta-aviões dos EUA combateu bandidos recentemente

Campeão sul-americano de Rally Raid (novo nome da modalidade Rally Cross-Country, da qual fazem parte o Dakar e o Sertões), o piloto Rodrigo Varela comemorava o Natal com a família quando chegou a notícia: o navio cargueiro que levava seu carro para a disputa do Dakar 2024, um UTV Can-Am, além de todas as peças sobressalentes e equipamentos, havia fugido de piratas houthis que abordavam as embarcações no Mar Vermelho.

Impedido de fazer aquela rota, o navio mudou o rumo para contornar todo o continente africano, o que alterou sua chegada mais de 20 dias – inviabilizando a disputa da prova pelo piloto brasileiro.

Imediatamente, a família iniciou os contatos para que o projeto da estreia de Rodrigo no Dakar não se encerrasse ali. Já com viagem programada para a Europa no dia 26 de dezembro, de onde seguiria para a Arábia Saudita, local do Dakar de 5 a 19 de janeiro, Rodrigo começou a busca de um carro substituto, com a ajuda dos dois irmãos e do pai, Reinaldo Varela, campeão do Dakar e tricampeão mundial.

Piratas impedem equipe brasileira de receber carro no Dakar 3 Vinicius Branca Fotop“Localizamos um Can-Am em Portugal, de um piloto que veio ao Brasil disputar o Sertões conosco. Mas precisamos fazer modificações e adaptações às pressas. Felizmente, deu certo e ele passou na vistoria do Dakar. Era o principal: vamos correr!”, contou Rodrigo, que será parceiro do navegador Ênio Bozzano. “Mas ainda não temos todas as peças que vamos precisar durante o Dakar, que é uma corrida longa e exige muita manutenção. Para isso, estamos contando com a ajuda das outras equipes. O Dakar é um misto de corrida e aventura. E isso faz da solidariedade uma de suas marcas mais notáveis. As pessoas se ajudam quando podem”.

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O incidente não foi um fato isolado. Uma semana antes, o governo dos Estados Unidos anunciou uma coalisão internacional para a difícil tarefa de proteger navios cargueiros que vinham sendo atacados por piratas no Mar Vermelho. No dia 31 de dezembro, helicópteros do porta-aviões USS Einsenhower e do destroyer USS Gravely combateram três embarcações houthis, matando dez tripulantes. 

Os houthis são uma das principais forças da guerra civil iniciada em 2012 no país mais pobre da região, o Iêmen, onde se opõem forças apoiadas pela Arábia Saudita (aliada dos EUA) e pelo Irã. Como nação árabe, outra bandeira que motiva a ação houthi naquela região é a oposição a Israel, devido à guerra contra o Hamas. O Mar Vermelho é caminho para o Canal de Suez, no Egito, por onde passam 15% do comércio mundial.

Equipe formada por brasileiros – O projeto dos Varela promoverá não apenas a estreia no Dakar de Rodrigo, filho mais velho do tricampeão mundial Reinaldo. Também é marcante o fato de que o time seja formado por técnicos brasileiros. Três mecânicos especializados serão chefiados por Reinaldo, com auxílio do filho mais novo, Bruno – que recentemente faturou o tricampeonato brasileiro de Rally Baja. Os dois estarão nos veículos de apoio na trilha.

Além da estreia do campeão sul-americano, o Brasil conta em 2024 com sua mais forte representação no Dakar desde a estreia do país na prova, em 1988, com Klever Kolberg e André Azevedo. Com um recorde de 17 integrantes, a delegação nacional tem fortes candidatos à vitória nas categorias em que atua, como a Carros (com Lucas Moraes, por exemplo), protótipos UTVs T3 (Gustavo Gugelmin, navegador) e UTVs de fábrica preparados para competição (T4, com Varela/Bozzano e o piloto Cristiano Batista), além da Quadriciclos (com Marcelo Medeiros).

Com 778 inscritos representando 72 nacionalidades, a 46ª Edição do Rally Dakar inicia nesta sexta-feira (05/01) e terá a última etapa, a décima segunda, em 19 de janeiro. Serão 434 veículos divididos em 72 carros, 148 motos, 10 quadricículos, 66 protótipos leves, 42 UTVs (Challenges, T3), 36 UTVs (de produção T4), 14 caminhões e 14 clássicos.