Prisão de vereadores em Caxias: Câmara ainda não abriu processos disciplinares

Passada uma semana da prisão dos vereadores Jonas É Nós e Chiquinho Grandão, presos pela Polícia Civil sob várias acusações criminosas, entre elas a de serem líderes da milícia “Família É Nós”, a Câmara de Duque de Caxias ainda não instaurou nenhum processo para apurar a conduta dos dois parlamentares. Segundo informou a Câmara, Jonas É Nós, que é Policial Militar reformado, está preso no Batalhão Prisional da Corporação, e Chiquinho Grandão na sede da Polinter.

Josemar Mussauer :: Foto de Audenir DamiãoDe acordo com o Consultor Jurídico da Câmara, Josemar Mussauer, em entrevista exclusiva ao jornal Capital, “até o momento não foi aberto nenhum processo administrativo, portanto não há que se falar em punição”, assinalou o advogado. Disse, no entanto, que a Câmara acompanha todo o processo e “conforme o seu andamento, tomará as medidas cabíveis”. Segundo o advogado, as versões da Polícia Civil e do Ministério Público “são passíveis de contraditório”, tendo os acusados, assim, “o direito constitucional da ampla defesa”. “Portanto - completa Mussauer - somente após o exame de todas provas carreadas, e admitidas em direito, podemos chegar a uma conclusão definitiva do que é ou não verdade”.

Indagado sobre qual é a posição do Presidente Mazinho sobre o assunto, o Consultor Jurídico limitou-se a dizer que o Presidente, “conforme colocado em seu discurso na última sessão realizada na Câmara, tomará todas as medidas legais e constitucionais necessárias”, sem, no entanto, explicar que medidas são essas. Ao ser perguntado se a Câmara foi informada oficialmente das ações da Polícia e do MP, disse apenas que acompanhou a diligência das autoridades policiais no dia da prisão dos dois vereadores, baseada em mandados de busca e apreensão aos quais a Câmara teve acesso. Sobre o material apreendido nos gabinetes de ambos os parlamentares, Mussauer disse não poder fazer comentários, pois “trata-se de processo que corre em segredo de justiça”.

O jornal Capital quis saber do advogado se o caso seria encaminhado para a Comissão de Ética da Câmara, uma vez que parece tratar-se de “falta de decoro parlamentar”. A resposta não foi esclarecedora. “Todos os procedimentos elencados no Regimento Interno da Câmara Municipal de Duque de Caxias que tratam de fatos como estes serão realizados, respeitando o princípio constitucional da ampla defesa”.

O presidente estadual do PPS, Comte Bittencourt, disse que encaminhou à Comissão de Ética do partido, em caráter de urgência, o caso do vereador de Duque de Caxias, Jonas Gonçalves da Silva, o Jonas É Nós, preso por envolvimento com milícias. O deputado classificou a questão como "gravíssima". A comissão tem a incumbência de fazer um relatório e o vereador poderá ser expulso do partido


Prisão dos criminosos mobilizou mais de 200 policiais

A mega operação, denominada “Capa Preta”, foi deflagrada no início da manhã do último dia 21, comandada pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (DRACO/IE) e que contou com a participação de várias especializadas. Os policiais cumpriam 34 mandados de prisão e 54 de busca e apreensão em 57 endereços, inclusive na Câmara de Duque de Caxias. Ao final do dia, 20 pessoas foram presas, entre elas os dois vereadores, que foram surpreendidos pela polícia em suas residências.

Na casa de Jonas É Nós, na Rua Dom Pedrito, no bairro Vila Sarapuí, os policiais prenderam ainda Johnatan Luiz Gonçalves da Silva, o “Petão”, filho do vereador e PM recém-formado. Outro filho de Jonas, o ex-PM Eder Fábio Gonçalves da Silva, o “Fabinho é Nóis”, foi detido em sua residência, numa rua paralela à casa do pai. O outro preso foi identificado como Daniel Seabra Ferreira, o Daniel do Lava-Jato. Com ele, os policiais apreenderam duas pistolas 9mm, quatro carregadores, dois aparelhos de rádio e um cinto da Polícia Militar.

A Polícia Civil acredita que Jonas É Nós e Chiquinho Grandão seriam os chefes da milícia em Duque de Caxias, coordenando grupos de extermínio, centrais clandestinas de TV a cabo e controle do transporte de vans na região, entre outros crimes. De acordo com o delegado Cláudio Ferraz, responsável pela operação, entre os procurados estavam 13 policiais militares, cinco ex-PMs, um comissário da Polícia Civil, um fuzileiro naval e um sargento do Exército. A Polícia Civil chegou à quadrilha depois de seis meses de investigação.

Chiquinho Grandão, por sua vez, não aparece no noticiário policial pela primeira vez. Conhecido em Duque de Caxias por comandar invasão de terras na área do São Bento, foi citado na CPI das Milícias da Alerj, em 2008, por “existência de currais eleitorais, seja por coação ou por clientelismo, em áreas identificadas pela CPI como dominadas por milícias”, como constou do relatório, em novembro daquele ano. Um mês depois, porém, em votação no plenário, os deputados retiraram seu nome do relatório, a pedido de parlamentares com base eleitoral em Duque de Caxias. Dois anos antes, o vereador levou cinco tiros na Estrada do China, no bairro Parque Fluminense, disparados por elementos que estavam em um carro preto. Grandão foi levado para o Hospital de Saracuruna, onde foi operado.

Recentemente, o vereador foi denunciado na 59ª DP de Duque de Caxias, acusado de invadir e depredar, juntamente com representantes da Funerária Rio Pax, do Rio, uma Capela do Cemitério Nossa Senhora de Belém, no bairro Corte Oito, conforme o Registro de Ocorrência nº 059-11131/2010, feito no dia 19 de agosto. A Rio Pax também é bem conhecida da polícia. Foi com a ajuda de dois funcionários da empresa que um falsário norte-americano - Osama Mohammed El-Atari - tentou enganar o FBI e bancos dos Estados Unidos, onde aplicou uma série de golpes que somam 100 milhões de dólares. No Brasil a empresa também ficou nos noticiários por tentar simular a morte do traficante Nem da Rocinha (Antônio Francisco Bonfim Lopes), com falsos documentos, bem como seu sepultamento.