Vereadores de Caxias transferidos para Presídio Federal no Mato Grosso

 

Câmara de Duque de Caxias, com os vereadores Chiquinho Grandão e Jonas É nósOs dois vereadores de Duque de Caxias - Jonas Gonçalves da Silva (o Jonas É Nós, do PPS) e Sebastião Ferreira da Silva (o Chiquinho Grandão, do PTB) - e outros dois presos durante a operação “Capa Preta”, foram transferidos nesta quarta-feira, dia 23, para o Presídio Federal de Campo Grande (MS). O pedido de transferência foi feito devido à suspeita da participação do grupo em uma série de crimes - inclusive dois homicídios -, cometidos após de a operação, realizada no dia 21 de dezembro de 2010.

Até então custodiado no Batalhão Especial Prisional (BEP), por ser policial militar reformado, Jonas É Nós seguiu do aeroporto Santos Dumont, no Rio, para a penitenciária de segurança máxima na manhã do dia. Depois, foi a vez do também vereador Chiquinho Grandão, que estava no Complexo Penitenciário de Gericinó. A permanência em Campo Grande, conforme decisão da Seção Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, ocorrerá durante prazo inicial de um ano.

De acordo com a investigação que deflagrou a operação da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco-IE) e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público (Gaeco), a milícia Família É Nós era a mais bem estruturada de Duque de Caxias. Mesmo presos e respondendo à ação penal pelo crime de quadrilha armada, os líderes do bando continuaram agindo para cooptar, coagir e matar autoridades e testemunhas que prestaram declarações contra eles, segundo os investigadores.

DESDOBRAMENTOS - O sargento reformado da Polícia Militar Nelson Franco Coutinho foi morto a tiros em 27 de janeiro, quando dirigia seu veículo na avenida Pelotas, em Jardim Gramacho, área de atuação da milícia. Ele havia atuado como informante nas investigações e, pouco antes de ser assassinado, disse que os quatro milicianos planejavam matar todos que contribuíram para a prisão deles. Em 5 de fevereiro, Lucas José Antônio, que figurava como testemunha, foi assassinado a tiros de grosso calibre em frente ao seu estabelecimento comercial, no bairro São Bento, outra área de atuação da quadrilha. Pouco antes do homicídio, a Draco obteve a informação de que ele vinha sendo coagido pelos integrantes da cúpula da milícia a negar o teor das declarações que prestou no inquérito.

No mesmo dia em que a operação foi deflagrada, a polícia soube que os integrantes da Família É Nós supostamente planejavam um atentado contra o delegado substituto da Draco, Alexandre Capote. Em 25 de janeiro, uma testemunha foi à sede da delegacia e informou ter sofrido ameaças de morte, além de ter sido perguntada se aceitaria mudar seu depoimento em troca de R$ 200 mil. Em 4 de fevereiro, outra testemunha prestou declarações na sede do Ministério Público e informou que foi abordada por Jonas É Nós, que lhe perguntou se aceitaria dinheiro para negar o conteúdo das declarações.

CAPA PRETA - A operação Capa Preta cumpriu 34 mandados de prisão contra pessoas denunciadas pelo MP pelo crime de quadrilha armada, resultando na captura de 30 milicianos. Buscas e apreensões foram realizadas em 57 endereços. Armas e munições foram encontradas. Elas se estenderam também na Câmara, onde foram recolhidos documentos e computadores dos gabinetes dos dois vereadores presos.

De acordo com a denúncia, Jonas - soldado reformado da PM -, seu filho Éder e Chiquinho comandavam o bando fundado há cerca de três anos, que atuava nas localidades de Gramacho, São Bento, Lote XV, São José, Parque Fluminense, Parque Muisa, Pantanal, Jardim Leal, Guaíra, Sarapuí, Vila Rosário e Parque Suécia, dividindo as regiões de Duque de Caxias em áreas de influência. Nos outros escalões, segundo o MP, havia 13 PMs, outros três ex-PMs, um policial civil, um fuzileiro naval e um terceiro-sargento do Exército.

A milícia é investigada por cerca de 50 homicídios, cometidos desde 2007. O grupo movimentava cerca de R$ 300 mil por mês por meio de atividades ilegais como cobrança de "taxas de proteção" de moradores e comerciantes, monopólio da venda de cestas básicas, comércio de armas de fogo com traficantes do Complexo do Alemão e outros criminosos, agiotagem, exploração da distribuição de sinal de TV a cabo ("gatonet") e internet ("gatovelox").

De acordo com o Ministério Público, o "quartel-general" da milícia fica em Gramacho, onde Jonas É Nós possui um centro social. As ações da quadrilha, segundo a polícia, envolvem a prática de homicídios coletivos, ocultação e destruição de cadáveres, torturas, lesões corporais graves, extorsões, ameaças, constrangimentos ilegais e injúrias. Os réus respondem à ação penal pelo crime de quadrilha armada. Jonas É Nós é processado ainda pelo crime de extorsão.

INVESTIGAÇÃO – A Câmara de Duque de Caxias, passados mais de quarenta dias depois da prisão dos dois vereadores, anunciou em nota que uma Comissão Especial da Câmara de Duque de Caxias, formada por 7 membros (5 titulares e 2 suplentes), foi instalada dia 8 de fevereiro, “para decidir o que deverá ser feito diante da prisão de dois vereadores, que estão em estabelecimentos penais do Rio de Janeiro desde o dia 21 de dezembro”.

A comissão é integrada pelos vereadores Eduardo Moreira, Moacyr da Ambulância, Juliana do Táxi, Chico Borracheiro e Júnior Reis, tendo como suplentes Carlinhos de Jesus e Marquinho Oi. Ela vai examinar os documentos sobre a investigação da Polícia Civil e do Ministério Público, que resultou na prisão dos dois parlamentares. Caberá a Comissão encontrar um meio para que a Câmara possa afastar, provisoriamente, os dois vereadores detidos e convocar seus suplentes, para que os trabalhos legislativos possam continuar normalmente.

MEDCOR Exames Cardiológicos
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