O impacto do isolamento social na vida das mulheres vítimas de violência doméstica

No evento realizado na Câmara de Caxias para debater o assunto, foram entregues moções e título às mulheres que lutam contra a violência

Em alusão ao Agosto Lilás, mês que representa a conscientização e o combate à violência contra a mulher, a Câmara de Duque de Caxias, realizou evento, em 31/08, por iniciativa do vereador Vitinho Grandão (SD), para discutir sobre o impacto do isolamento social na vida das mulheres vítimas de violência doméstica.

Além do vereador, compuseram a Mesa, a delegada da Polícia Civil, Fernanda Fernandes; a representante do Departamento dos Direitos da Mulher da Secretaria de Assistência Social, Monique Leal; a presidente da Associação de Mulheres de Atitude com Compromisso Social/ Amac, Nill Santos, a vice-presidente da 2ª Subseção da OAB/ DC, Lívia Fíngola e o também vereador Nivan Almeida (PT).

Num segundo momento, foram chamadas à Mesa, a coordenadora do Centro Integrado de Atendimento à Mulher/ CIAM da Baixada, Sônia Lopes; a subsecretária de Atenção Básica da Saúde, Flávia Alves da Costa; a coordenadora da Patrulha Maria da Penha da Guarda Municipal de Duque de Caxias, Neuseli Daris; a psicóloga e voluntária da Amac, Flávia Cruz e a presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, Leni Claudino e a assistente social, Ana Maria Leone.

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Na ocasião, foram entregues moções e títulos. A presidente da Amac, Nill Santos, recebeu o Título de Cidadã Duquecaxiense, a maior comenda do município. A cantora Margarete também abrilhantou o evento.

Agosto Lilás

A Campanha Agosto Lilás nasceu em 2016, idealizada pela Subsecretaria de Políticas Públicas para Mulheres (SPPM) com o objetivo de intensificar a divulgação da Lei Maria da Penha e divulgar os serviços especializados da rede de atendimento à mulher em situação de violência e os mecanismos de denúncia existentes.

A presidente da Amac, Nill Santos, salientou a importância da participação da mulher na Câmara. “Aqui são discutidas leis que beneficiam as nossas vidas. Hoje, vocês saem daqui com o compromisso de espalhar as sementes, de falar com outras mulheres que também não conhecem esta Casa, que elas devem vir, participarem, sim”, disse Nill.

O vereador Vitinho Grandão destacou seu respeito e atenção com a causa e reforçou que é preciso buscar meios legais para acabar com a situação de abuso. “Se tem uma coisa que deu certo em nosso país, chama-se Lei Maria da Penha. Denuncie! Não se deixem suportar esta dor tão terrível”, enfatizou ele.

Violência doméstica e ações do município

A delegada da Polícia Civil, Fernanda Fernandes, falou dos avanços com a instituição da Lei Maria da Penha. “Tivemos inúmeros avanços graças ao Movimento Feminista que vem lutando pelo combate à violência contra a mulher. Este combate não é uma luta das mulheres, é uma luta da sociedade”, explicou a delegada.

A vice-presidente da 2ª Subseção da OAB/DC, Lívia Fíngola, enfatizou que o papel do Legislativo é fundamental no processo contra à violência doméstica. “O legislador tem que estar atento o tempo todo. A gente não vive numa sociedade sem que os poderes caminhem juntos”, disse a advogada reforçando que é preciso levar a discussão até as escolas a fim de que os espaços se tornem sadios para convivência.

A coordenadora da Patrulha Maria da Penha da Guarda Municipal de Duque de Caxias, Neuseli Daris, apontou que muitas mulheres acreditam que não sofrem ou não sofreram abusos. “A gente precisa falar sobre isso o tempo todo. As mulheres precisam reconhecer que elas não são culpadas, que elas não têm que ter vergonha e que elas têm que pedir ajuda. Em Caxias, a gente tem todos os equipamentos necessários para ajudar”.

Em seguida, foi a vez da coordenadora do Centro Integrado de Atendimento à Mulher/ CIAM da Baixada, Sônia Lopes, falar sobre o assunto. “Os índices aumentaram porque as informações estão chegando até o ouvido dessas mulheres que estão precisando de ajuda”, explicou Sônia.

A representante do Departamento Municipal dos Direitos da Mulher, Monique Leal, disse que a função do CIAM é a de ajudar a mulher num momento conturbado. “Passamos por impactos sim e ainda estamos sofrendo. Em agosto de 2020, tivemos 80 atendimentos e, em agosto de 2021, 150 atendimentos”, disse ela apontando que a realização de eventos públicos é essencial para divulgar a situação.

A subsecretária de Atenção Básica da Saúde, Flávia Alves da Costa, apontou que o número de agressões cresceu na pandemia e que há receio de se fazer as denúncias. “Ainda temos muitas mulheres que não têm a coragem que deveria ter, por medo, dúvidas e vergonha de denunciar o agressor”.

A presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, Leni Claudino, chamou a atenção para a situação das mulheres que vivem em áreas de risco. “Nós temos no município todos os equipamentos, mas nós temos no município, todas as nossas favelas. Eu quero dizer que nós, mulheres que moramos na favela, que somos oprimidas pelo tráfico, oprimidas por todas as ações, a gente precisa que estes equipamentos cheguem nas favelas. Como vamos construir este debate para estas mulheres?” 

Para a assistente social, Ana Maria Leone, é preciso haver a constante implantação de políticas públicas. Para isso, as autoridades precisam estar abertas ao diálogo. “Quando a gente luta pela mulher, a gente tá lutando pela sociedade inteira, por uma estrutura melhor, por creche, hospital, etc”.

A psicóloga e voluntária da Amac, Flávia Cruz, alertou que a forma de reduzir os índices de violência doméstica, é denunciando os agressores. “O que nós precisamos, literalmente, é aprender, abrir a nossa boca e denunciar quantas vezes forem necessárias. Vamos baixar esse número de mulheres que estão morrendo e que não se veem dentro de uma violência”.

Já o vereador Nivan Almeida destacou que, quando da aprovação da Lei Maria da Penha, em 2006, o país tinha um governo preocupado com as políticas públicas. “A gente tem que ver em quais governos as políticas avançaram para o negro, o indígena, o pobre, o operário, o trabalhador. Tudo se resume na ferramenta política, por isso, temos que participar mesmo”.

Manifestações

Mulheres que já foram vítimas de violência doméstica relataram seus dramas e a coragem que tiveram para se libertarem de seus agressores e de se tornarem vozes para aquelas que ainda sofrem abusos.

Empoderamento. A palavra foi repetida por Ana Cláudia e Vânia que chamaram a atenção para a necessidade de constantes debates e ações contra a violência doméstica.