Detentos lançam livro de poemas

O Presídio de Cataguases (MG) está com 240 detentos provisórios (ainda não julgados), número bem superior à capacidade, de apenas 96 vagas. A unidade é destinada a abrigar presos em flagrante ou que foram alvos de mandados de prisão. Essa situação de extrema injustiça, pois eles ainda não foram julgados, num impediu que brotasse uma semente de Esperança, na forma de um livro com poemas escritos por detentos, que será distribuído a dois mil alunos de escolas da região de Cataguases dentro de uma estratégia de prevenção da criminalidade. Em parceria, a Subsecretaria de Administração Prisional de Minas Gerais e a Superintendência Regional de Ensino de Leopoldina, na qual Cataguases está inserida, pretendem utilizar o testemunho dos presos para mostrar aos jovens que o crime não compensa. Em Poetas da Liberdade, os versos expressam sentimentos comuns ao dia a dia do cárcere: o medo, a fé, o arrastar do tempo, a saudade, o sofrimento e a solidão.

Em 112 páginas, o livro reúne 80 poemas de 65 internos do Presídio de Cataguases, matriculados na Escola Estadual Marieta Soares Teixeira, que mantém um núcleo educacional no interior da unidade prisional. Recentemente, o livro foi aprovado para receber recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Cataguases, o que vai permitir a distribuição de dois mil exemplares a estudantes dos ensinos fundamental e médio. A ação vai priorizar escolas dos bairros onde vivia a maioria dos detentos do presídio. Durante o ano letivo, os versos dos detentos serão recitados e discutidos nas aulas de Literatura. Haverá também palestras nas escolas, proferidas pelo diretor do presídio, Alan Neves, por servidores da unidade prisional e por um ex-detento. O tema da primeira rodada de palestras está definido: “A Droga e o Sistema Prisional Mineiro”.

A iniciativa em Minas Gerais está em sintonia com os princípios do Programa Começar de Novo, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que busca conscientizar instituições públicas e privadas sobre a importância das ações de reinserção social de detentos para a prevenção da reincidência criminal. “Através do livro, as pessoas que desconhecem o universo prisional, especialmente os jovens, podem passar a dar mais valor ao que há de melhor na vida: a liberdade”, destaca o diretor do Presídio de Cataguases.

Segundo ele, os poemas foram escritos em sala de aula, com tema livre ou a partir de uma técnica em que os detentos deveriam imaginar-se como algum animal, misturando a própria vida com a dele. O convite à poesia também incluiu oficinas e palestras ministradas por escritores e poetas da região. A primeira edição de Poetas da Liberdade foi lançada em novembro de 2013 com 57 poemas de 47 internos do presídio. A tiragem era pequena, de 240 exemplares, em função da escassez de recursos. “A ideia inicial era permitir que, a partir da poesia, os internos passassem por um processo de autoconhecimento. Verificamos que, por causa dessa estratégia, o comportamento dos presos envolvidos no projeto mudou. A disciplina na unidade, por exemplo, melhorou muito. Depois, passamos a considerar que esse testemunho poderia ser acessível aos jovens da região, com foco na prevenção da criminalidade. Então, decidimos levar o livro às escolas”, conta o diretor do presídio, um dos principais idealizadores da publicação.

Para o professor João Dioni Sarquer Augusto, diretor da Escola Estadual Marieta Soares Teixeira, a iniciativa de levar a poesia dos detentos aos alunos “tem tudo para dar certo em termos de prevenção da criminalidade e do uso de drogas. As mensagens dos versos do livro são muito fortes, e muitas falam de coisas tristes vividas dentro da prisão. Falam, também, do arrependimento dos presos por terem entrado para o crime. É certo que os estudantes serão tocados por isso”.

Ao falar sobre o “poder transformador da educação”, o professor destaca o aumento da autoestima dos detentos que estudam e seu bom rendimento escolar. Segundo ele, dos 20 internos que fizeram o último Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), apenas um tirou zero na redação. Além disso, cinco conseguiram nota suficiente para ingressar em uma Universidade. (Com a Agência CNJ de Notícias)