Complexo do Alemão e outros complexos

Na contramão do noticiário ufanista da mídia carioca, sempre exaltando a facilidade com que a Polícia expulsou os traficantes da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão, o IBGE acaba de divulgar os assustadores índices de insegurança dos brasileiros, dados extraídos da pesquisa "Características da Vitimização e do Acesso à Justiça no Brasil", um suplemento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2009 realizada pelo órgão. Nada menos de 47,2% da população confessou que se sente insegura, sendo que 21,4 mesmo estando em casa. Em números absolutos, 11,9 milhões de brasileiros confessaram que já foram roubadas ou furtadas.

Diversos fatores concorrem para a elevada taxa de insegurança, a começar pela imunidade, pois a Polícia está despreparada para desvendar a maioria dos crimes ocorridos no País, o que resulta num elevado grau de criminosos que voltam a delinqüir apostando a própria impunidade, desde o motorista que se nega a fazer o teste do bafômetro, apesar de estar visivelmente embriagado, até aqueles que participam de estelionatos em grande escala, como o desvio de dinheiro de grandes empresas para os chamados "Paraísos fiscais", que voltam ao Brasil disfarçados de "Fundos de Investimento de origem externa", como Silvio de Abreu acaba de revelar na nova da 9:00 horas da Rede Globo e a Receita Federal constatou numa grande instituição bancária nacional.

A instalação de UPPs em alguma favelas do Rio de Janeiro - com "aviso prévio" para que os traficantes possam abandonar o local - , se por um lado, visam evitar as tragédias das balas perdidas, que só atingem inocentes, não eliminam o crime, mas mudam de lugar, repetindo, grotescamente, a velha piada da troca do sofá da sala como forma de punir uma esposa adultera.

Nos últimos meses, o recrudescimento dos roubos e furtos na Baixada, onde Duque de Caxias é campeã indiscutível no "desaparecimento" de automóveis, caminhões de entrega e motos, demonstram que os criminosos não tem "área cativa" como se alardeou ao longo de décadas, mas dispõem, sim, de rotas de fugas e suporte logístico para mudar o seu sistema operacional com mais rapidez do que a Polícia consegue instalar uma UPP. E o exemplo pode ser buscado nas favelas da Baixada, principalmente do Lixão, da Vila Operária e do Complexo da Mangueirinha, todas a poucos quilômetros de distância da sede do 15º Batalhão da PM e da 59ª DP/Caxias. Não custa lembrar que o 15º Batalhão da PM foi criado como 6º BPM do antigo Estado do Rio depois do "quebra quebra" de 1963, que resultou no esfacelamento dezenas de padarias, mercadinhos e quitandas diante da passividade com que as Polícias Civil e Militar do antigo Estado do Rio enfrentaram a situação que resultou na morte de dezenas de comerciantes e pessoas do povo, que invadiram lojas onde, supostamente, estariam escondidos feijão e outros alimentos básicos sonegados por conta de um tabela de preços artificial comandada pela famigerada COFAP.

A segurança do município estava nas mãos do delegado Amyl Ney Richaid, que se transformara em celebridade por perseguir e matar o cheque da quadrilha que assaltara um "trem pagador" da Central do Brasil, em plena Baixada. O Exercito chegou à cidade, com carros blindados e metralhadoras, garantindo a distribuição de alimentos que não eram mais encontrados no mercado regular. Sob pressão da Associação Comercial e Industrial de Duque de Caxias, que cedeu suas instalações para abrigar PMs deslocados de Niterói, o Estado resolveu criar o 6º Batalhão da PMRJ, atual 15º, cujo contingente vem sendo reduzido ao longo dos anos. Hoje, temos 1,5 PM para cada quilômetro quadrado de território, ou menos de um PM para cada um dos 865 mil habitantes da cidade que está entre os principais PIBs do País. É muito pouco!