Programa mais médico não pode ser visto como solução milagrosa

Apresentado na semana passada pela presidente Dilma Rousseff, o Programa “Mais Médico” pretende levar profissionais para o interior do país e para as periferias das grandes cidades. Os médicos deverão atuar na atenção básica da rede pública de saúde e poderão receber bolsas federais de R$10mil reias.

O projeto pode ser um primeiro passo para  dignificar e dar acesso aos cidadãos em locais mais carentes. Porém deve ser visto como apenas um primeiro passo.  O problema da saúde no Brasil não passa apenas por falta de profissionais. Falta estrutura física, faltam  investimentos financeiros, aplicação correta por parte dos gestores, transparência nos gastos e, principalmente,  fim dos desvios de recursos. Sim, o nosso maior problema é de gestão.

Outro aspecto é a falta de ofertas para uma carreira no SUS. Ou seja,  pagar melhor aos que resolvem dedicar-se a trabalhar na rede pública. Um médico precisa de mais do que uma bolsa de R$10 mil reais para tal decisão. Ele precisa da certeza de que, ao chegar a um Posto de Atendimento da periferia, em um Hospital do interior, encontrará ataduras, remédios, equipamentos para exames. Encontrará meio e ferramentas para colocar em prática o que, em resumo, aprendeu: salvar vidas.

Também divirjo no que considero verdadeira discriminação: importar médicos  sem que precisem mostrar capacitação através de provas de revalidação dos diplomas.  Por que nossos estudantes se preocuparão em, depois de formados, continuarem a estudar, realizarem especializações se os que chegam “de fora” merecem tratamento especial? Quem garantirá a capacidade de tais profissionais?  E como o Poder Público garantirá que as falhas estruturais, a burocracia na liberação das verbas, por exemplo, não afetarão o resultado deste Programa?

Durante o mesmo evento, o Ministro da Educação, Aloizio Mercadante, anunciou  a elevação da carga horária dos cursos de medicina da rede pública  e privada do país de 6 para 8 anos de duração. A partir de 2015, os alunos que ingressarem nas faculdades terão de cumprir, obrigatoriamente, dois anos de serviço no Sistema Único de Saúde.

Como podemos obrigar um estudante que muitas vezes, apesar de estudar em uma Universidade privada, fez enormes sacrifícios e depois de formado, será obrigado a trabalhar para o governo.

Quem de nós não conhece a história de pais e até avós que se sacrificaram durante anos para pagar a faculdade do filho ou neto que sonhou se formar em medicina?

Estou apresentando Emenda à Medida Provisória que traz consigo uma forma de “trabalho forçado” para que apenas os estudantes oriundos de Universidades públicas, que de certa forma foram financiados pelo Estado, tenham que prestar tal serviço. Os que se formam com recursos próprios devem ter o direito de optar se querem ou não  participar do Programa.

Com a palavra os maiores interessados: os estudantes!