O consumidor empreendedor

Existe uma parcela significativa de brasileiros que olha para o futuro com otimismo, que está disposta a realizar seus sonhos e continuar enriquecendo e progredindo na vida. É o que revela cada nova pesquisa que se faz para entender os valores e aspirações dos integrantes da nova classe média, que hoje totaliza mais da metade da população. A mais recente delas, divulgada nesta semana, mostra, por exemplo, que 63% das pessoas matriculadas em faculdades no País já são desse extrato social. E o mais impressionante é que mais da metade dos seus indivíduos, ou 51% deles, aspira ter seu próprio negócio. Esse é um ativo que a sociedade brasileira conquistou com muito sacrifício para atingir o objetivo de criar uma sociedade que não precisa mais conviver com o autoritarismo e com a inflação elevada.

 

 

A força de vontade desses milhões de brasileiros que se sacrificam em jornadas pesadas no trabalho e na faculdade é o que explica o aumento avassalador do empreendedorismo. Hoje, o Brasil possui 19 milhões de empreendedores, quantidade que representa um salto de 26,6% em relação ao ano passado, quando 15 milhões de pessoas estavam à frente do próprio negócio. Segundo os dados divulgados pelo Global Entrepreneurship Monitor (GEM) de 2010, o Brasil ocupa a segunda posição num ranking de 45 países - que exclui China e Índia – em número absoluto de empreendedores.

O cenário de crescimento econômico com distribuição de renda dos últimos dez anos permitiu que o País chegasse a esse patamar. Esse legado, no entanto, precisa avançar ainda mais e incluir medidas destinadas a fomentar o empreendedorismo. Ainda é necessário criar no Brasil um ambiente institucional que estimule a qualificação, o empreendedorismo, a criatividade.

Há muito por fazer para reduzir a burocracia e facilitar o caminho para o sucesso daqueles que sonham em abrir um negócio próprio. As oportunidades para os empreendedores estão batendo à porta. Geralmente, são citados grandes eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, mas creio que estas, nem de longe, alcançam aquelas possibilidades abertas pela dinâmica de crescimento do consumo da nova classe média. Somente neste ano de 2011, esse segmento deverá consumir R$ 1,03 trilhão, segundo estimativas do Instituto Data Popular. Desse total, 65% serão gastos em serviços como acesso à banda larga, viagens de avião pela primeira vez e matrículas de filho em escola particular. Trata-se de um consumo que supera a soma das riquezas geradas por Portugal, Argentina, Chile e Uruguai juntos.

Cada novo negócio que se abre para aproveitar esse cenário de crescimento traz o consigo o sonho e os valores de milhões de brasileiros que deixaram a pobreza para trás. Mais do que um segmento de compradores atraídos pelo mercado de consumo, a nova classe média continua se revelando, em cada nova pesquisa, o construtor de nossa economia.